Anna Luiza Fernandes, “Vida”. Grafite sobre papel sulfite. Improvisação de desenho realizada na oficina de corpo e arte, www.mulheresemetamroses.org , realizada no dia 01 de julho de 2021.
ANNA LUIZA FERNANDES
Anna Luiza participou na terceira oficina de corpo e arte deste projeto, realizada no dia 01 de Julho de 2021.
No seu primeiro desenho, em que se devia desenhar um objeto que se vê no entorno sem olhar o desenho mas olhando o objeto em si, Anna Luiza desenhou uma escrivaninha com gavetas, geometricamente perfeita. O segundo desenho, em que se olha para o mesmo objeto mas com uma moldura que fragmenta o olhar, ela escolheu as alças de abertura das gavetas. Com a repetição do padrão deste desenho no corpo, essas alças foram adquirindo um outro sentido que se desprende da funcionalidade do objeto.
No seu último desenho, após a vivência das formas no corpo, a posição das alças se inverteu em 180 graus. A barriga da alça que antes era virada para baixo, passou a apontar para cima: o resultado, várias letras V espalhadas pelo papel. O fragmento das linhas que delimitavam o móvel também se inverteu e a sua repetição, em ângulos e tamanhos diversos, passa impressão de um gráfico, o que Anna Luiza ligou à imagem de um “eletrocardiograma”.
Anna Luiza é procuradora do Estado e trabalha na Secretaria de Saúde. Seus pais são ambos da área médica. Acredito que para ela, a saúde ou “vida” esteja intimamente ligada a gráficos e laudos. Linhas que foram tiradas de sua posição habitual com o viver o desenho de uma forma incorporada. A linearidade característica de gráficos e que ela trouxe no primeiro desenho do móvel, no seu desenho final, entretanto, amoleceu, se arrendondou. Formas angulares se transformaram em elipses. Etimologicamente a palavra elipse aponta falta, ausência. Como figura de linguagem, opera a ausência de uma palavra que está subentendida na construção do texto (ex. “Na mesa, livros e canetas.”). A vida que, imprevisivelmente e sem linearidade, brota e se insinua nos lugares menos esperados.