Há uma linha. Uma linha traçada há muito tempo.
Uma linha que traça a minha memória genética, emocional, ancestral, histórica, cultural, artística.
Converso com o meu passado, o passado do lugar onde cresci, dos lugares onde escolhi viver...
Converso com pessoas amadas que já se foram, que de certa forma ainda estão aí.
Converso com pessoas presentes em corpo na minha vida.
Converso com pessoas que me inspiram, me ensinam, me guiam.
Inclusive aquelas que não conheci em carne e osso, mas que estão em mim.
Clarice Lispector, Lygia Clark, Lygia Pape, Paula Rego, Louise Bourgeois, Carolee Schneemann, Käthe Kollwitz, Minako Seki, Yoshiko Shimada, Ana Maria Maiolino, Regina Vater, Lenora de Barros...
Ainda um emaranhado de fios. O fio se chama AMOR.
Macio. Quente.
Sento e desembaraço. Preparo o novelo.
Começo o entrelaçar. Ainda de um lugar que não sei exatamente o que é. Mas que sei de onde vem.
Christina Elias, série Líquidos (tricô de dedos, objetos-performance, 2021), foto: César Meneghetti
Nós. O tecer o presente é realizar uma série de NÓS.
Várias histórias e vivências que se entrelaçam e formam uma teia. As vidas não são individuais.
As obras não são individuais.
Conforme o tempo passa, conforme as minhas mãos se movem, uma trança aparece. Uma trança que parece um tecido vivo, placenta, carne, fogo e luz. Essa trança vai formando outro emaranhado – a que EU dou forma. E talvez daí - dessa série de NÓS, que não vêm só de mim - que nasça a minha individualidade como mulher nessa vida, nesse corpo. A forma que EU dou àquilo que me foi doado.
Amor, espírito, vida, fluxo, continuidade, arquétipo... Entendo a aranha mãe de Louise, a galinha de Clarice, as entrevidas de Maiolino, os nós de Regina Vater, o amor de Paula Rego... e reescrevo.
Christina Elias, Líquidos 3, objeto-performance, tricô de dedos em tela cerca (para galinhas)
Paula Rego, Amor, pastel sobre papel, 1995
Louise Bourgeois, nº 8 de 14 do conjunto de instalação À l’Infini, 2008, Água-forte suave, com guache, aquarela, aquarela, lápis e acréscimos de lápis de cor.
Ana Maria Maiolino, Entrevidas (performance, 1981)
Regina Vater, Nós (instalação interativa, 1973)
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