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Giovana participou na 4. Oficina de corpo e arte deste projeto, realizada no dia 8 de julho de 2021.

desenho 1 - desenho cego de contornos 

Em seu primeiro desenho, o objeto que escolheu foi um espelho pequeno com pés. Tudo desenhado com uma única linha que começa numa tendência espiralada, passa por momentos de equilíbrio linear e é suspendida por alguns poucos pontos de trepidação. A linha não se fecha. O espelho é aberto.

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desenho 2 - um fragmento do anterior

Seu segundo desenho, em que se deve olhar o mesmo objeto através de uma pequena moldura, traz vários fragmentos deste mesmo espelho com uma preponderância de momentos de trepidação da linha, se comparado com os momentos de equilíbrio linear que o seu primeiro desenho trazia.

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desenho 3 - registro da vivência

O seu último desenho que seria uma síntese ou descrição da vivência de movimento que fizemos com a forma do desenho 2, é surpreendente na sua riqueza de formas, dimensões, direções e sentidos escolhidos. O minimalismo do traço do desenho 1 é substituído por muitas linhas que se cruzam, se sobrepõem, se contorcem numa certa sintonia que não é exata. As linhas parecem se mover conectadas no que se refere ao ritmo e forma mas não se coincidem. Há uma certa defasagem entre elas. Aqui é possível perceber que o que chamei de momentos de trepidação nos desenhos anteriores são curvaturas do padrão linear. Essas curvaturas ou dobras neste último desenho quebram com a estabilidade inicial e formam uma metaestabilidade característica daquilo que que se move, é vivo.

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GIOVANA LOUZANE
organoide

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Giovana associou duas palavras ao seu último desenho. A primeira “cruz” e a segunda “organoide”. O conceito de organoide está relacionado a práticas de regeneração de tecidos no corpo e, no processo de desenvolvimento de um organoide, as células se auto-organizam assumindo uma arquitetura semelhante à das células-tronco ou progenitoras.

 

A formação de tecidos numa certa auto-organização que nasceu da repetição um mesmo padrão fica expressa neste último desenho de Giovana. Quando olhei a primeira vez o desenho, vi um coração. Outra participante na oficina pensou que era um útero.

 

O desenho poderia apontar para ambos, já que claramente fala de formas de “auto-organização” de elementos (indivíduos, células, linhas ou traços) dentro de um padrão (ou arquitetura) já existentes. A potência criativa que existe neste processo são justamente as sutis defasagens da forma anterior (ou progenitores) que transformam o parecido em outro.

No que se refere à imagem da “cruz”, a associo a uma certa dor, sacrifício. Talvez uma certa dor que decorre de mudanças inevitáveis, da passagem do tempo, do processo de contínuas metamorfoses e defasagens de si mesmo por que tudo o que é vivo passa. Não vejo no desenho de Giovana a dureza e linearidade da cruz. Subentendo-a na forma que assumiu o desenho. As linhas da cruz, talvez até uma estrutura óssea, se arredondam na repetição dos padrões circulares e suas dafasagens. Tornam-se mais leves.

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