SONIA GUGGISBERG
O corpo tem “dobras”.
Sonia tem desenvolvido uma série de desenhos chamada “corpos de dobras”. Não apenas dobras num corpo que se olha por fora, um corpo não-meu, um corpo-objeto, um corpo-imagem. As dobras do trabalho de Sonia são internas e externas, nascem no coração e transbordam os poros da epiderme. O contrário também, as perturbações, as motivações e gatilhos do entorno invadem o contorno do corpo e transformam o seu estado atual, exigindo uma nova postura.
Alguns desenhos dessa série que vi antes da oficina trazem essas dobras, o material do corpo.
Sonia Guggisberg, desenho da série corpos de dobras, 2002.
Diferente nos desenhos dessa oficina, foi a inclusão deste material dentro de uma espécie de membrana, trazendo uma estética celular a essas dobras. Trazem também uma certa pulverização do individual no coletivo e vice-versa. Este corpo que é meu e ao mesmo tempo não é. A membrana como canal de ligação e troca. O controle que eu tenho sobre o meu instrumento e a falta de controle imposta a uma célula que vive num espaço física- e metaforicamente mais amplo. Sonia associou a palavra “ar” ao seu último desenho. A célula respira em trocas incessantes com o ar.
ar
Sonia Guggisberg, desenho 2 realizado na 5. Oficina de corpo e arte (15 de julho de 2021)
Sonia participou na quinta oficina de corpo e arte deste projeto, realizada no dia 15 de julho de 2021. O objeto que Sonia escolheu para desenhar no primeiro desenho que fizemos, foi o pano para limpar seus óculos. Nessa própria escolha, uma prioridade já expressada: a representação visual da realidade. O olhar como método preponderante de percepção.
“Não tem mão para desenhar no papel e ainda com a outra segurar a moldura para olhar o objeto”, disse Sonia no momento do segundo desenho em que a atividade era, com uma pequena moldura de papel nas mãos, desenhar um fragmento do primeiro desenho. Essa sensação de estranhamento, de ter de reequilibrar o corpo com todos os seus sentidos diante de uma situação não programada é justamente uma das finalidades do método dessa oficina. Treinos de corpo-mente como o Butô e o Aikido, por exemplo, operam neste registro. O estranhamento e até o mal-estar são gatilhos para o aguçamento da percepção e consequentemente da reação.
A terceira parte da oficina, traz uma vivência de formas através do movimento, em que repetimos o traçado ou percurso do desenho n. 2 em suportes diferentes do papel, começando pelo ar e terminando no coração, o qual de certa forma representa uma incorporação do percurso feito. Aqui, segurar o papel ou limpar as lentes dos óculos já não faz mais sentido. O corpo se move no espaço, o percurso se faz dentro e fora dos limites da pele. Sonia se entregou a este exercício que, sem nenhuma instrução para tanto, realizou integralmente de olhos fechados.
Sonia Guggisberg, desenho 3 realizado na 5. Oficina de corpo e arte (15 de julho de 2021)
O terceiro desenho de Sonia, que seria uma espécie de registro em traços da vivência que fez anteriormente, integra o estranhamento vivenciado durante a oficina. O percurso claro e seguro dos contornos se fragmenta com a inclusão de um retângulo ou moldura que seria uma espécie de lente de aumento ou telescópio através do qual se percebe algo que não se vê a olhos nus.