PAULA HAMPSHIRE
engrenagem
Paula participou na 5. Oficina de arte deste projeto, realizada no dia 15 de julho de 2021.
Ela disse logo no início que é fotógrafa e que o desenho é algo presente na sua vida mas que pertence à vida de outros: desenhar sempre foi uma atividade dos homens de sua família. Ela desenhava, mas como “brincadeira”.
O primeiro desenho de Paula, retrata um sofá. A parte de cima, do encosto do sofá não está presa ao assento, ou seja, flutua no ar. Há um destaque para os botões redondos que prendem o tecido às almofadas.
O segundo desenho, traz três sofás, em níveis diversos do papel. Aqui os botões do primeiro desenho não aparecem. Em dois deles, os que parecem estar enraizados no solo, o encosto se apoia na base sofá. No terceiro foi feito na parte superior do papel, ou seja, flutuando: talvez porque esteja lá longe na imaginação.
O terceiro desenho - o que vem após o exercício de movimento em que essas formas são retiradas do papel e realizadas no corpo e no espaço - parece inverter a posição do sofá. Vejo-o de ponta cabeça. O encosto se destaca completamente da base, assumindo sua função flutuante.
Os botões reaparecem, mas abertos. O primeiro desenho trazia círculos pequenos e fechados. Agora elipses que apontam novamente para algo que flutua, que está no ar.
A “elipse” enquanto figura de linguagem omite para destacar: ela destaca algo que não está ali expressamente, mas que se subentende do conjunto da imagem.
Paula fez ainda um quarto desenho. As elipses abertas do desenho 3 se fecham novamente em círculos perfeitos, que retomam os botões que prendem ou amarram o tecido presentes no desenho 1. Esses círculos assumem uma dimensão muito maior do que a do desenho 1.
Os círculos são reforçados com vários traços feitos um sobre o outro e se estendem, em dois de seus lados, em linhas retas que remetem para o retângulo da base do sofá e um outro que quebra com essa linearidade cartesiana formando um zigue-zague.
Um dos lados do triângulo não tem linhas. É subentendido. O traçado do desenho se fecha nele mesmo delimitando o seu próprio espaço interno. A forma desenhada não toca o chão. Novamente flutua.
A palavra que associou aos desenhos 3 e 4 foi “engrenagem”. Engrenagens são elementos mecânicos que se ligam a eixos e que atribuem aos mesmos um movimento rotacional que se traduz em potência.
Energia potencial. Potência criativa. Com a incorporação dos botões-círculos que prendiam o tecido (ou pele?) do sofá à espuma da almofada de encosto (ou talvez a matéria interna do corpo), Paula encontrou uma engrenagem rotacional. Embora seu último desenho ainda aponte para uma forma retangular, um dos lados que o fecha não está lá como traço. Várias elipses nesse desenho, que embora se aproxime mais do solo, ainda flutua.